sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Carta.

"Não falei contigo com medo que os montes e vales que me achas caíssem aos teus pés."
[ Carta - Toranja ]



Hoje senti uma necessidade sufocante de te escrever. Não que eu tenha o quê escrever, não que eu saiba o que posso falar ou mesmo sentir. Mas essa noite lembrei de você, lembrei de todos os abraços, de todos os gestos, de todos os nãos, de todas as palavras ríspidas, de tudo que compreendi errado e o que entendi completamente certo. Lembrei de muita coisa boa também, coisas que acho que só eu vivi, no meu mundo particular que vivi com você sem você estar lá. Aquele mundo dos sonhos e fantasias em que a gente cria um personagem em cima de uma carcaça que nunca chegará aos pés dos nosso enfeites sonhadores. Não te escrevo para te fazer sentir mal ou mesmo desabafar mágoas em cima de você e do que não vivemos. Escrevo porque por melhor ou pior que tenha sido esse tão pouco tempo juntos, ficou alguma coisa dentro de mim. Algo que não consegue me deixar andar pra frente, algo que me prende, me bate toda vez que tento dar um passo em direção à novos relacionamentos e sentimentos. Mas sabe o que eu finalmente pude aceitar? A culpa não foi sua. Como falei, criei um ideal, vivi num mundo à parte da realidade e foi difícil, está sendo difícil sair dele. Porque nos meus sonhos você ainda é tão real e tão puro e intocado como sempre foi. Ainda é o meu ideal, ainda é minha aspiração, meu desejo. Não, não tenho vergonha de dizer isso. Me envergonhar disso é me envergonhar da minha habilidade de criação, de fantasia. Porque no fundo você nunca passou disso. Uma ilusão, um ideal criado por mim e pelo que eu achei que poderia vir a ser nós dois.
Sei que não deu certo. Sei que nunca vai dar certo. E parece que falando isso diretamente eu me entendo melhor, compreendo melhor essa coisa tão confusa que eu vivo, que eu almejo ainda. Foi bom enquanto durou, vai ser bom enquanto não durar mais. Se te escrevo, não é por esperança, é por alívio e tristeza. Mas é uma tristeza boa, aquela que você pensa e dá aquela risadinha amarela meio de lado, saca?
Pois é. Assim que faço quando lembro de você e de tudo que não fomos.

7 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. É estranho comentar um texto que imprime em si tantas peculiaridades que nem você, Lisa, sabe distinguir.
    De todo modo, eu não poderia deixar de agradecer este 'vilão' [ou seria vítima?], que permitiu a mim, hoje, uma experiência inigualável: Entrar pela porta da frente no mundo irreal, belo e fugaz que só a Elisama sabe levantar e decorar tão bem.
    Aliás, quem deve agradece-la, Lisa, não sou eu, e sim ele, afinal, provavelmente ninguém lhe deu uma casca tão cintilante.
    E quanto à sua habilidade de construir belos personagens, o ator é só um detalhe de curta duração.
    No mais, não preciso dizer que o texto está incrível, né? *-*

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Impossivel comentar algo tão profundo... simplesmente incrivel, como você sempre o é.

    ResponderExcluir
  5. Escreve muito bem, Lisa.
    O texto fala por si só.

    Beijo

    X*

    ResponderExcluir
  6. ... silêncio.

    Te acompanho em silêncio.

    ResponderExcluir

Agora já podem massacrar/elogiar/desdenhar.