quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Náufrago

Antes de tudo éramos certeza. Hoje somos sombra de dúvida, desconhecidos como náufragos bebendo água do mar e tendo ilusões que juram ser verdadeiras. Éramos imagem real, agora, meros reflexos em um espelho trincado por algum objeto atirado. Caleidoscópios de nós mesmos, destituídos de sentido e razão.
Onde antes pensava plantar amor, hoje colho mentiras, dia após dia, em uma cadência melancólica e fúnebre. Seus olhos cor de mar me riem, mas é meu coração que insiste em chorar. Chora pela possibilidade que insistimos em desperdiçar, pelos outros com quem tropeçamos pelo caminho, que desviam nossa atenção e por tantas outras antes de mim que talvez façam bem mais sentido em seu mundo inventado.
E eu, em cima dessa pedra fico, contemplando sua embarcação, que já segue ao longe. Espremendo meus olhos eu até consigo enxergar, nublado e já quase irreconhecível, seu rosto.
Você está sorrindo?