quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Tenuidade


Luana era linda. Apesar de toda sua história de vida e tudo o que a fez ter uma autoestima baixa, Luana era linda. Luana não era popular. Dotada de uma inteligencia sarcástica  daquelas que a gente aprende pra tentar se destacar no mundo, mas que acaba mesmo é nos fazendo estar à parte dele. Luana tinha uma vida comum: trabalhava, estudava, sofria, se alegrava. Como você, como eu. Tentava viver em harmonia com tudo e todos. Tentava a vida e aceitava tudo o que ela lhe oferecia de bom grado. Uma pessoa comum, mas Luana era linda - só ela não percebia. Onde chegava tentava se entrosar. Tentava. Daquele jeito diferente dela. Mas o mundo é assim, não tem tempo de perceber e aceitar diferenças. E Luana era como todo mundo - pra ela também foi difícil se perceber e se aceitar. 
Semanas se passaram até que sua falta fosse notada. Foi encontrada pelo porteiro de seu prédio que, desconfiado por não tê-la visto procurando suas correspondências (sua caixa de correio nunca esteve cheia, mas uma carta ali há dias o intrigou) foi bater em sua porta. Precisou usar a chave reserva. Ele encontrou o corpo já roxo pendendo no guarda-roupas, pendurado apenas por um cinto enrolado no pescoço. A barra da calça gasta denunciava as unhas de seu gato, deitado logo abaixo do decrépito cadáver.
Luana era linda. Não o suficiente. Era inteligente, mas não o bastante. Até era legal, mas apenas razoavelmente. Investigações até foram feitas, mas logo se decretou suicídio e caso encerado. Foi enterrada pelo que restara de sua família - uma tia e um primo. A carta que estava em sua correspondência foi enterrada junto. Luana era tão desinteressante ao mundo que nem mesmo sua tia teve curiosidade de a ler. 
Hoje a vida segue. Luana até que era bonitinha, mas ninguém mais toca no assunto.