sábado, 31 de março de 2018

Soul

Escrevo hoje para acalmar minha alma partida. Pra tentar colocar de vez na cabeça que tudo o que acontece tem um propósito. Mas tenho andado cética quanto ao Destino. Logo eu que, que acreditava piamente na Fortuna e sua sabedoria eterna. Hoje sou apenas dúvidas. O que falar? Como agir? Como lidar com as consequências e com a enxurrada de sentimentos que borbulham dentro do meu peito?
Sei que agi certo em sair de cima desse muro, mas a queda lá de cima ainda dói em meus frágeis ossos. Do lado de cá, apesar da dor, tá tudo bem. Ainda tem muita coisa a ser arrumada, conversada e concordada, mas estamos indo bem.
É chato esse muro entre nós. Ouço sua voz e seus passos desse lado daí, mas já não reconheço mais o que é voce, o que pode ser os outros. Seu cheiro ainda dorme em mim, mas sabemos que memórias passam, minha raposa.
Sei que tudo vai passar, eventualmente. Estaremos então mais maduros para lidar com tudo. Mas por enquanto, guarde uma canção em sua garganta rouca. Guarde um acorde em seus dedos já tão destreinados. Pense em mim quando ouvir aquela canção boba sobre o medo. Guarde um sonho bom para nós dois.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Náufrago

Antes de tudo éramos certeza. Hoje somos sombra de dúvida, desconhecidos como náufragos bebendo água do mar e tendo ilusões que juram ser verdadeiras. Éramos imagem real, agora, meros reflexos em um espelho trincado por algum objeto atirado. Caleidoscópios de nós mesmos, destituídos de sentido e razão.
Onde antes pensava plantar amor, hoje colho mentiras, dia após dia, em uma cadência melancólica e fúnebre. Seus olhos cor de mar me riem, mas é meu coração que insiste em chorar. Chora pela possibilidade que insistimos em desperdiçar, pelos outros com quem tropeçamos pelo caminho, que desviam nossa atenção e por tantas outras antes de mim que talvez façam bem mais sentido em seu mundo inventado.
E eu, em cima dessa pedra fico, contemplando sua embarcação, que já segue ao longe. Espremendo meus olhos eu até consigo enxergar, nublado e já quase irreconhecível, seu rosto.
Você está sorrindo?