quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Minuto


Pedro acordou com uma leve sensação de vazio. Era como se todo peso de sua vida tivesse sido tirado de seus ombros. Levantou-se, respirou fundo, mas sem sentir muito bem o ar que inspirava. Andou até a janela e, apesar do Sol estar a pino, não sentiu o calor queimar sua pele.  Olhou para o relógio, quase caindo de cima do criado mudo: 12: 52.  O fato de estar atrasado para o trabalho não o incomodou desta vez. Sempre fora um empregado dedicado, até mais do que deveria. Hoje não sentia necessidade de ser. Voltando a olhar pela janela, percebeu algumas pessoas vestidas de preto, entrando e saindo de sua casa, algumas com um semblante calmo, outras com olhar sombrio e perdido. Apesar de sentir algo familiar nelas, não as reconhecia. Desceu as escadas quase como se estivesse flutuando. Passou por um relógio de parede redondo: 12: 52. Um burburinho no ar o deixa curioso. Quem são essas pessoas, e o que fazem na minha casa? Toby, seu cachorro, o olha e começa a uivar. Pedro se abaixa, chamando-o para um afago, mas como resposta recebe uivos mais frenéticos. Percebe então, que não se lembra de como chegara a sua casa. Alguns flashes do dia anterior passam pela sua cabeça. Lembra-se de ter acordado seis em ponto, como todos os dias, se arrumado e ido ao trabalho. No caminho havia parado para tomar o café na birosca onde há meses paquerava uma garçonete. Ah, Luiza. Santa Luiza que já tinha seu pedido decorado: pão na chapa e um pingado. Melhor forma de começar o dia: café com Luiza. Lembrou-se também que Paulo, seu assistente, o chamara pra almoçar fora, pois tinha algo importante para contar a Pedro. Depois de uma pesada conversa sobre o crescimento profissional de seu assistente e a chance de perdê-lo para a contabilidade de outra empresa, lembrou-se de sair do restaurante e atravessar a rua sem olhar pros lados. O relógio em seu pulso – presente de sua mãe – se espatifa pelo chão. 12: 52. Acorda daquelas lembranças e, atordoado, começa a procurar naquelas pessoas alguém conhecido que pudesse lhe dizer o que acontecera a ele. Enquanto caminha, procurando um rosto amigo, nem percebe que não estava mais passando entre as pessoas, mas por elas. Seu susto é enorme quando para e se vê parcialmente dentro de um homem, que se parecia muito com ele, só que mais velho. Sente um grito brotar em sua garganta, mas não há som. Olha para uma senhora que segura com carinho um relógio de pulso quebrado em sua mão. Aproxima-se e fica em paz. Sentindo uma luz penetrar todas as partes do seu corpo, o conduzindo para cima, olha mais uma vez para aquele objeto dourado. O ponteiro dos segundos se mexe preguiçosamente:  12: 53.

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