segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Embriaguez

Um tanto zonza pelo sono (ou seria pela alto teor etílico que ainda permeava minhas veias?) tento levantar da cama. Uma dor que se inicia na boca do estômago e vai até o topo de minha cabeça começa a martelar. Um ritmo descompassado, embriagado, sonolento. A gravidade de Newton faz um sentido enorme agora. Meu corpo luta para ficar ali e então sucumbo a seu desejo. Minha mente começa a formar cenas embaçadas, a juntar pedaços e a criar uma história. Vejo uma menina, prestes a florescer, mais ainda no auge da inocência de seus 10 anos. Ela está sentada no colo de um homem sombrio, com um sorriso maldoso de canto de boca. A menina parece não entender bem o significado deste olhar, mas as outras pessoas em volta sim. Ouve a voz de sua tia, chamando-a com veemência. Por se demorar, ela vem ao encontro da menina e a arranca à força. A dor toma conta daquele braço infantil e desperto agora do meu estado sonolento, sentindo a dor que antes fora no membro superior agora em minha cabeça. Ali, naquela cama, em um estado quase vegetativo, sinto meu coração um pouco mais acelerado. É a embriaguez, que agora me leva aos meus 16 anos, já mulher feita, precocemente. Talvez isso tenha uma forte ligação com aquela primeira memória, mas não quero pensar nisso agora. Finalmente crio coragem e me levanto fraca e deprimida. Pelo estado bêbada, pelo estado melancólica. Quero apenas sair daquela cama, abarrotada de lembranças doloridas, de um passado que tento ao máximo esquecer. Agora, ali, em pé, percebo que o álcool não mata lembranças. Só disfarça, só tenta remediar algo irremediável. Não há cura para o passado. Agora só quero mesmo é curar esta ressaca.

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