Acho
que gostava mais quando eu chorava. As lágrimas desciam pelas minhas bochechas
e, com o tempo evaporavam, como se evaporassem junto com elas minhas confusões,
minha dor, meus complexos. Hoje eu deveria ter chorado, eu deveria ter desabado
minhas frustrações e medos. Mas não encontro mais minhas lágrimas. Meu rio
interno secou, mas sem criar vida, sem ter a chance de fazer florescer qualquer
flor ou fruto à sua margem. O que crescia dentro de mim era o próprio Estige,
carregando corpos falecidos e almas estilhaçadas, fragmentos de mim mesma e do
que deixei que fizessem comigo. Por fora me sinto a pessoa mais normal do
mundo: um rosto simples, sem beleza ou atrativo, mas não muito ruim de se olhar.
Por dentro, sou o próprio monstro que Frankenstein criou, mas dessa vez sem
criador a admirar. Meu espelho interno – estilhaçado - me mostra um quebra-cabeças
perverso. Minhas esperanças vinham do lado exterior, de um fabuloso mundo que
criei junto a alguém. Era meu refúgio, para onde eu escapava nos momentos mais
sombrios de mim mesma. Hoje esse mundo desmoronou, levando meu último fio de fé
e me fazendo abrir os olhos para toda aquela ilusão. No final sobramos apenas
eu e meus estilhaços, que deixo guardados aqui dentro, para não ferir ninguém.